Mesmo sendo a espinha dorsal da matriz elétrica brasileira, as hidrelétricas continuam desempenhando funções essenciais sem que todos os seus serviços prestados estejam sendo adequadamente remunerados.
Protagonistas
As hidrelétricas respondem por cerca de 50% da capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil. Ao longo das décadas, garantem energia limpa, confiável e flexível, sendo fundamentais para a segurança energética nacional.
Sua capacidade de armazenamento, regulação e resposta rápida às variações da demanda as tornam únicas. Ainda assim, os múltiplos serviços sistêmicos que prestam — como estabilidade de frequência, reserva de potência e suporte à variabilidade das fontes intermitentes — precisam ser reconhecidos e valorados pelos serviços prestados ao Sistema Elétrico.
Nesse contexto, as hidrelétricas vêm sendo exigidas com mais frequência para atendimento de rampas de geração, em razão da intermitência de outras fontes. Isso implica um número crescente de partidas e paradas das máquinas, aumentando significativamente o desgaste dos equipamentos, custos de manutenção e redução de vida útil dos ativos. Essa forma de operação gera esforços e custos adicionais de manutenção.
Cortes concentrados nas Hidrelétricas e sem compensação
Além de não receberem adequadamente pelos atributos que entregam, as hidrelétricas são frequentemente as mais afetadas por cortes de geração, mesmo tendo disponibilidade hídrica para produção de energia. A Abrage aguarda que em breve seja regulamentada norma específica (constrained-off) que assegure compensações isonômicas em comparação com as demais fontes de geração.
Para se ter uma dimensão como as hidrelétricas são impactadas, podemos citar que entre 2022 e 2024, os cortes de geração no sistema elétrico nacional somaram 98 TWh, dos quais 86% corresponderam à energia vertida por hidrelétricas. Esse volume de energia seria suficiente para abastecer 32 milhões de habitantes durante um ano.
Competitividade
A valorização adequada dos atributos únicos das hidrelétricas e o reconhecimento do ressarcimento dos cortes de geração promoveriam um ambiente mais favorável à competição e um setor mais eficiente, em benefício dos consumidores.
Além disso, a manutenção de subsídios que já cumpriram o seu papel também causa desequilíbrio econômico do Setor Elétrico, na medida que distorce os incentivos econômicos, desestimula novos investimentos que assegurem a sustentabilidade do Setor.
Aprimoramento Urgente
É hora de avançar com:
- Remuneração justa dos serviços prestados pelas hidrelétricas;
- Ordenamento dos cortes de geração, com vistas à reduzir os impactos aos consumidores e investidores;
- Regulamentação do constrained-off de hidrelétricas, com regras claras e compensação adequada;
- Sinais de preços eficientes, que promovam uma competição equilibrada.
O modelo atual sobrecarrega as hidrelétricas — os gigantes silenciosos que há décadas carregam o piano no setor elétrico.
Está na hora de reconhecer e valorizar quem sustenta essa sinfonia energética.