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O Apagão e a Inércia (ou a falta dela)

No dia 28 de abril o sistema elétrico da Espanha e Portugal sofreu uma grande interrupção no fornecimento de energia elétrica.

A causa desse apagão ainda é investigada, mas a Red Electrica de España, operadora do sistema de transmissão da Espanha, identificou uma perda de geração de energia solar da ordem de 15 GW (equivalente a 60% da geração elétrica no momento), que ocorreu em apenas poucos minutos. Esse fenômeno levou ao colapso o sistema elétrico espanhol e português.

Segundo especialistas europeus, antes da interrupção a rede elétrica espanhola estava operando com pouca inércia. Mas o que a inércia ou a falta dela tem a ver com isso?

Inércia é a capacidade do sistema elétrico de resistir às mudanças na frequência, mantendo a estabilidade da rede. A inércia é fundamental para estabilidade do sistema elétrico porque ajuda a evitar que grandes perturbações, como a perda de usinas geradoras ou um aumento repentino na demanda, causem grandes alterações na frequência e, consequentemente, grandes distúrbios, como o apagão que ocorreu.

Um sistema elétrico com alta inércia é mais resiliente a falhas e aparentemente é isso que pode ter ocorrido na península ibérica.

O crescimento em diversos países das fontes de energia renováveis intermitentes, como a solar e a eólica, tem gerado preocupações sobre a segurança e a confiabilidade do sistema elétrico, pois essas fontes não contribuem ou não fornecem inércia suficiente para manter a estabilidade do sistema.

Conforme informações da ENTSO-e, rede europeia de operadores de redes de transporte de eletricidade, no momento do apagão as usinas solares térmica e fotovoltaica eram responsáveis por quase 66% da eletricidade gerada na Espanha e as eólicas por 11%. Ou seja, o sistema operava com 77% de energia gerada por fontes intermitentes, que não fornecem a resposta inercial necessária para estabilizar a rede em caso de variações de frequência. Apenas 23% da geração era proveniente de usinas hidrelétricas e termelétricas, que utilizam geradores síncronos.

O que ocorreu na Espanha e Portugal poderia ter ocorrido no Brasil?

Devido à grande participação das usinas hidrelétricas na nossa matriz, o sistema elétrico brasileiro possui maior inércia síncrona e, portanto, é muito mais resiliente e capaz de absorver melhor as variações repentinas de frequência.

Se compararmos a geração de energia elétrica nos sistemas elétricos da Espanha e do Brasil no dia 28 de abril de 2025, às 12h30 (horários locais de ambos os países), podemos observar que a geração intermitente (solar + eólica) no Brasil respondia por 42% de toda a geração, contra os 77% na Espanha. A energia hidrelétrica nesse mesmo horário representava cerca de 47% da geração no SIN, contra apenas 10% na Espanha.

Caso ocorresse uma perda instantânea de geração nesse horário no sistema elétrico brasileiro, por este ter uma inércia maior e mais resiliente a falhas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) teria mais tempo para tomar medidas corretivas e restaurar a estabilidade do sistema.

Atualmente o sistema elétrico brasileiro conta com cerca de 30% de sua geração proveniente de fontes não controláveis que não possuem inércia síncrona. Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2034, esse percentual poderá alcançar 43% em dezembro de 2034, o que tornará o sistema elétrico brasileiro mais vulnerável às variações de frequência.

O incidente ocorrido na Península Ibérica nos serve de alerta. O Brasil não pode renunciar ao seu vasto potencial hidrelétrico. As hidrelétricas proveem inércia síncrona que é tão necessária ao sistema elétrico, para uma operação segura e com confiabilidade.

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